sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

AINDA E SEMPRE ANGOLA

Ainda e sempre Angola, num presente feito de passado …

O título desta crónica, bem poderia dar lugar a um relato que representasse um passado não tão distante assim, feito de alguns idealismos, contrastando com um presente que convida por vezes ao esquecimento, mesmo que feito de memórias. 
As décadas de 60 e 70 foram o filão da Força Aérea no que toca à “fabricação” de Especialistas. 
Ser voluntário era moda e a Força Aérea era o escape, a fuga esperada do quotidiano, o gosto pelo desconhecido e o estatuto que se poderia adquirir. Havia ainda alguma escolha, com opções diversas entre especialidades. Só mesmo quase no final da recruta se definiam as posições futuras. 
Na Ota, onde quase todos nós chegámos um dia cheio de esperança, para se fazer um pouco de história e traçar o futuro. 
O destino, esse ficava por conta do acaso ou talvez não. Não sei se escolhi ser o que fui mas tive muito orgulho sendo quem fui e como fui. 
Inacreditavelmente quis o tal destino que após a recruta, me visse com uma viagem marcada, após os tais 15 dias de Férias, para os Açores. 
Lembrei-me da BA 4, mas depressa percebi que afinal o meu destino seria o HM BA4 [Hospital Militar da Base Aérea N.º 4]. Este era considerado um Hospital dos chamados de retaguarda, que na altura recebia os feridos do Ultramar. Conheci por lá dois dos mais famosos combatentes [feridos em combate], do Ultramar; o Marcolino e o Setenta. 
As enfermeiras que na altura faziam a diferença também por lá andavam. Recordo-me da Cristina, da Céu, da Antonieta e da Fernanda. Se teria sido um sonho, estar ali, não sei, só os 6 anos de Força Aérea que eu esperava vencer, me dariam o veredicto. 
Foi agradável passar 1 ano na florida Terra Chã, conhecer ao pormenor Angra do Heroísmo, desfrutar de boas paisagens e muito divertimento. Ver as Largadas à Corda, conhecer a pesca da Baleia e ir até à praia da Silveira num passeio a pé, por canadas íngremes era um regalo. As compras nas Lajes, o whisky, os pirex´s, o tabaco americano, os Ray Ban os zipp´s e as parker´s, quem não se lembra disso?! Claro que o curso de Enfermagem um dos mais conseguidos na altura em todos os ramos das Forças Armadas, seguia calmamente como eu esperava. 
Mas … e como há sempre um mas, de repente vejo-me de malas aviadas a caminho do Continente e lá estou eu a fazer a apresentação em Monte Real. Ali tive o prazer de conviver com alguns companheiros já regressados do Ultramar, que contavam as suas histórias. Lembro-me do Campos, um grande amigo. Eram os nossos serões na BA 5. 
Não consegui desfrutar de todos os prazeres que a periferia da Base nos proporcionava já que num ápice, me vejo mobilizado para a 2ª. RA ou seja, Angola. 
Mais 15 dias de Férias e voilá …lá vou eu a caminho de Luanda. Estadia curta nesta cidade, obviamente na BA 9, mas a suficiente para conhecer a Mutamba, o Mussulo e a Marginal. 
Falava-se muita na altura do BO e do Marçal também. Ah e a célebre Portugália, sempre frequentada pelos cambistas de ocasião onde se trocavam os nossos escudos por outros que não os nossos. 
De repente lá estou eu a caminho de Henrique de Carvalho. Lembro-me daquela chegada, a malta à espera na placa, procurando substituto. Era um frenesim quando chegavam os maçaricos, como eu o era naquela altura. 
Fui substituir o Rolo e logo ali encontrei o meu “pai”, o Bilinhos. Para aqueles que se desmemorizaram já, essa relação era atribuída pelo nosso número de matrícula. Na altura eu era o n.º 222/70 e o Bilinhos o n.º 222/69. Fiquem bem entregue sem dúvida. 
O que se seguia à chegada já todos nós conhecemos. O arrumar dos sacos a visita de reconhecimento ao Aeródromo, o almoço, no meu caso, no Clube, onde por aquele instrumento das Caldas com boa cerveja era tragado, no cimo de uma cadeira, ao som desconcertante dos presentes, com arremesso das tais bolinhas de miolo de pão. 
À noite lá vinha a praxe do costume e estavam assim feitas as apresentações formais a todos os presentes, passando a ser mais um elemento da espécie. 
Pois mas nem tudo era assim tão divertido como possa parecer. Aqui havia algumas barreiras, impostas pelos que se assumiam como os líderes da “tribo”. Haviam alguns excessos que só o tempo apagava ou fazia esmorecer. 
No AB 4 cada época definia uma classe e se dissesse que entre a década de 60 e a década de 70 houve uma abissal diferença de pessoas e atitudes, não mentiria. Essas diferenças acabaram por ser transladas para os tempos de hoje mas com outras cambiantes. 
De facto foi um percurso sinuoso mas nem por isso infrutífero para quem se decidiu a traçar uma linha e a segui-la na íntegra. 
Angola fazia a diferença. 
Os costumes, as oportunidades, os dias o convívio eram a tónica. E … por aqui me fico sendo que, se for caso disso, esta minha narrativa terá a sua continuidade!

Virgílio Oliveira 1.º Cabo ENF

1 comentário:

  1. Olá pessoal!...Não fui especialista, no entanto há uns meses a esta parte que visito com regularidade o vosso espaço...que convenhamos...me tem ajudado a combater aquela doença com nome de alemão (alzheimer). E como visitar não é suficiente...e porque tenho a pretensão de ter boa memória...ao ver o artigo do Oliveira,não pude deixar de recordar, que ele foi o primeiro a diagnosticar-me umas cólicas renais aquando da minha primeira passagem pela "colónia de férias do Camaxilo"... que ele para passar o tempo,que teimava em andar devagar, pegava num baralho de cartas e se punha a ler a sina do pessoal, e que num belo dia quando confrontado com um joelho inchado do Simão (ajudante de cozinheiro), e sem a pomada apropriada para o efeito...decidiu aplicar uma bisnaga de pomada anti-venérea, que resultou tão bem, que passadas duas,três horas, o inchaço já era...
    Espero confirmar esta e outras pequenas estórias, onde por vezes as verdades se misturam com a imaginação, de cada um.
    Um abraço a todos
    Abílio Pimenta

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