sábado, 31 de dezembro de 2011

UMA DÚVIDA QUE PERSISTE

Foto de Gonçalo de Carvalho
Uma tarde, uma parelha de T6 em missão de RVIS, da qual fazia parte, foi chamada por um grupo de FT, que num combate com o IN tivera dois feridos graves.
O local onde se encontravam as FT era perto de um destacamento da FAP, cuja pista era visível voando a cerca de 1500'.
Aproximava-se o cair da tarde, mas devido ao estado muito grave dos feridos, a evacuação era necessária, pelo que foi pedido ao Destacamento para enviar um Héli.
Por mero acaso nesse dia encontrava-se ali um PUMA, que sendo para nós uma máquina sofisticada, considerava-se poder com sucesso efectuar aquela evacuação.
A resposta foi negativa. 
Como a noite se aproximava, a evacuação não seria feita.
Insistiu-se, invocando-se a curta distância entre o Destacamento e o local onde se encontravam os feridos, e as capacidades de um Héli como um PUMA.
A resposta negativa foi mantida, pelo que restou abandonar a área e aterrar nesse Destacamento.
Aí se pernoitou, jantou e ouviram umas anedotas, mas, da minha cabeça, não saía o pensamento naqueles homens, gravemente feridos, e ali tão perto.
Foto de Gonçalo Carvalho
Com o dia a nascer, um AL III, escoltado pela parelha de T6, foi para o local recolher os feridos.
Os feridos, esses, já tinham morrido, pelo que a operação se limitou à recolha dos seus corpos.
Acabado de aterrar no Destacamento, assisti à primeira avaliação, por parte do médico, aos corpos em macas, ainda num Jeep.
Como me doeu, ver aqueles dois “putos”, como eu, lívidos, mortos. 
Interroguei-me e ainda hoje me interrogo, caso tivesse aquela evacuação ocorrido no dia anterior, se teriam sobrevivido.
Não consigo apagar esta dúvida.

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