segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O SACO AZUL

Como se recordam... comia-se muito mal em 1970, quando era "gerente de messe" um tenente cujo nome não me ocorre, com óculos e sempre de cigarro no canto da boca e com o adjunto que era o "famoso" sargento paraquedista.
A sopa tinha sempre pequenos bichos e para nós era sempre de "carne".O prato de peixe ou carne era sempre mal apresentado e não muito bom, e só ao fim de 2 a 3 meses é que comemos batatas fritas, pois tínhamos a visita de um general vindo de Luanda.
Sempre que iamos á cidade de Henrique de Carvalho, em especial ao fim de semana, aproveitávamos para saciar o estômago, comendo uma refeição em condições. 
O ambiente no refeitório começava a "aquecer", e num dia em que eu estava de serviço de cabo de dia aos especialistas (CDE), ao jantar o "verniz" estalou. 
Quem não se lembra do civil que estava no nosso refeitório e que tinha um aspecto todo gingão, o Cardoso? 
Uma das funções do CDE era de que as refeições fossem servidas em condições e nada faltasse. Ao jantar o referido civil queria despachar-se para se ir embora e tentou servir rapidamente o jantar, ao que me opus não autorizando, dizendo que ainda não tinha visto o que era o jantar e queria saber a quantidade de pão que havia guardado para poder dar a quem solicitasse. Contado o pão, verifiquei que o jantar era peixe frito com arroz, o famoso 365! O civil insiste.... nosso cabo posso servir? Com o refeitório cheio, e sabendo do "ambiente", disse: NÃO! 
Começou o dialogo: devolva todas as travessas pois como elas estão, não autorizo que sejam servidas. Como se faz a divisão à mesa, se a travessa tem 3 cabeças e 1 posta do meio, ou 3 cabeças e 1 rabo? 
Sugeri que pusessem ou 4 cabeças, ou 2 cabeças e outras 2 postas. 
Resposta imediata: vou dizer ao sargento, pois todos os refeitórios estão a servir as refeições e não se pode alterar. 
Mantive a posição de não servir o jantar explicando a todos o motivo do atraso, e passado algum tempo vieram as travessas de acordo com o que eu tinha sugerido: 2 cabeças e outras 2 postas. 
Começamos aqui, aquilo a que chamamos de "braço de ferro". Passado pouco tempo, lembro-me de que num Domingo  ao regressarmos à noite à base, fomos informados de que tinha havido um "levantamento de rancho" ao jantar. 
Messe dos Especialistas, ao fundo pode ver-se o referido "postigo"
De serviço de CDE estava um companheiro cujo nome não me lembro, mas que tinha vindo de um destacamento com um braço partido. O famigerado sargento paraquedista, quando soube do que estava a acontecer no nosso refeitório, tentou entrar para o mesmo pela janela ("postigo" que se vê na foto) por onde serviam as refeições e o CDE empurrou-o para dentro da cozinha, dizendo-lhe que se não tivesse o braço partido o assunto era de outra maneira. Aqui desta vez o "verniz saltou".
Ninguém jantou e de imediato começaram as averiguações para saberem quem eram os "cabecilhas".
Recordo-me que ainda houve castigos, mas o que é certo é que passado tempo, o refeitório mudou de gerente,Cap. Amarino EABT, mudou o pratos, os copos, e até as refeições, tendo o comandante Ladeiras o desplante de lhe perguntar se aquilo era algum hotel.
Resposta imediata: o dinheiro que me atribuem é suficiente, não falta mas também não sobra.
Passado tempo aconteceu o inevitável, a gerência do Cap. Amarino acabou e claro, logo a seguir tudo declinou e porquê? Tudo isto por culpa do tão falado SACO AZUL.
Eramos jovens, mas tínhamos carácter e responsabilidade, e seguiu-se depois a também inesquecível saga do teatro no hangar.
Quem não se lembra?

Um abraço a todos.