terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

ALIMENTO PARA A ALMA - Escrito a duas mãos


O correio era a carga mais preciosa que se transportava.
Um certo dia, chegado ao Jimbe ido do Cazombo ( Angola-Leste ), sede do Batalhão, ao descarregarem o avião vejo um soldado a chorar em cima da carga.
Interrogado sobre o porquê do choro... era a falta do correio !
No Batalhão esqueceram-se de o enviar e como só lá voltaria daí a uma semana seria uma semana triste. Palavra que aquilo mexeu comigo.
Após a descarga do avião regressei ao Cazombo, fui à sede do Batalhão e mostrei o meu desagrado pelo facto. Pedi o correio em falta e voltei ao Jimbe ( eram 50 min de voo para cada lado ) com um saquinho que pesaria 100/200 gramas mas que transportava o alimento do espírito e alma para aqueles homens, pelo menos para uma semana.




A noite caía e ia uma enorme agitação na companhia, onde estávamos aboletados numa operação. 
Motivo? 
A coluna tinha ficado uns quilómetros a Norte, no acampamento da JAEA - Junta Autónoma das Estradas de Angola - e o correio só chegaria na manhã seguinte. Havia choros, crises de histeria e a situação tendia a gravar-se durante a noite. 
Já não me lembro de quem nos comandava, mas sei que descolei, já noite, fui ao acampamento da JAEA e levei o correio para Ninda. 
Continuo a considerar que esta foi a minha melhor missão em Angola.