sexta-feira, 10 de outubro de 2014

ACIDENTE FATAL NO CHITADO - AVIÃO DAKOTA 6154


Chitado - Cunene (sul de Angola) - 10 de Novembro de 1961

Pista do Chitado
O Dakota 6154 passou por cima da pista a baixa altitude. 
Não ia aterrar. Levava os motores na potência de cruzeiro, o trem recolhido e bloqueado. No final da pista iniciou uma volta pranchada de quase 90º para a esquerda, em sentido contrário. A meio da volta, a ponta da asa bateu numa árvore que sobressaía das outras cerca de 15 metros. O avião rodou sobre si mesmo, ficou em voo invertido, caiu a seguir, com a cabine ao contrário.
Incendiou-se imediatamente.
O voo era uma viagem de estudo de oficiais superiores ao Sul do território de Angola.
Entre eles o Segundo Comandante da Segunda Região Aérea.
A baixa altitude seria para avaliar melhor as condições no terreno.
O comandante do aparelho terá menosprezado a temperatura do ar, 40º.C - o que terá feito o aparelho perder altitude na volta - e a turbulência resultante da hora, cerca do meio dia.
A tripulação era constituída pelo Cap. Pil. Nav. Francisco Fernandes de Cravalho, comandante de bordo; Ten. Pil. Nav. José Manuel Boavida Chagas; Alf. Pil. Av. Mil. Arnaldo Luzia da Silva; 1º. Sar. Rad. Teleg. Domingos de Oliveira Neiva; 2º. Sar. MMA António Rodrigues; 1º. Cabo MMA Manuel Freire Martins.
Além dos tripulantes, pereceram no acidente:
Monumento aos mortos do Chitado
Gen. Carlos Miguel Lopes da Silva Freire, Comandante da 3ª. Região Militar; Brig. Pil. Av. José da Silva Correia, Segundo Comandante da 2ª. Região Aérea; TCor. CMM João Manuel de Oliveira Marques, e o filho , civil, João Manuel de Oliveira Marques; TCor. Art. João Horta de Galvão Ferreira; TCor. Inf. José Eugénio Borges; TCor. Eng. Luís Jorge Tedeschi Seabra; Maj. CEM Carlos Mota de Oliveira; Maj. CEM Jesofete Monteiro de Figueiredo; Cap. Inf. António André Dias Pombo e Costa; e ainda os civis, Frederico de Vilhena Luís Serrano, secretário do Governador do distrito da Huila; e fotógrafo Maia, de Sá da Bandeira.

O relato da peritagem e das testemunhas do acidente. Eu não vi. Assisti às cerimónias fúnebres e à partida das dezoito urnas na Base Aérea 9 para a Metrópole.
"Bordo ataque" Major-general Pil. Av. José Duarte Krus Abecasis
Vítimas mortais: dois Oficiais Generais
– General Carlos Silva Freire, Comandante Militar de Angola;
– Brigadeiro José Silva Correia, 2º Comandante da 2ª Região Aérea;
– Oficiais dos Estados Maiores respectivos, Sargentos e cabos da tripulação.
– Total – 18 mortos.
Comandante do avião – Capitão Francisco Fernandes de Carvalho;
Co-piloto – Tenente Chagas.
Segundo as conclusões do inquérito da Secção de Segurança de Voo.
- Responsável principal: O Co-piloto.
- Co-responsáveis: Comandante do avião.
- Comandante do Grupo Operacional da Base Aérea Nº 9 – Luanda.

Juizo ampliativo:
O co-piloto executou manobra de volta apertada em voo rasante, no limite da velocidade, provocando uma perda, sem recurso, por não dispor de altura suficiente para retomar o controlo, percutindo com o solo.
O Comandante do Avião pelo erro gravíssimo de confiar a pilotagem a um co-piloto inexperiente, retirando-se para a cabine de passageiros, em fase crítica de um voo de reconhecimento táctico.
O Comandante do Grupo Operacional da Base Aérea Nº 9, ao nomear a tripulação para uma missão de extrema responsabilidade. Ainda que o 1º. Piloto tivesse a maior qualificação (aceito que não disporia de melhor na Base) com centenas de horas em comando de “DAKOTA”, a inexperiência do co-piloto tornava proibitiva tal nomeação.



NOTA TÉCNICA
O avião “C 47 DAKOTA”, devido a particularidades do perfil aerodinâmico das pontas das asas, perdia subitamente a sustentação em manobras de volta apertada, perto da velocidade de perda. Esta condição era, por vezes, negligenciada na instrução de voo a pilotos, omitindo as demonstrações compulsórias, em altitude de segurança. (acima de 1 500 metros).

Texto publicado por especial deferência de Aniceto Carvalho
e transcrito do seu site "Aviação Portuguesa" http://aerodino.no.sapo.pt/index.html



8 comentários:

  1. Em 1961, tinha eu 13 anos, morava ao meu lado na Av.Berna em Lisboa, a família do Ten.Cor. José Eugénio da Silva Borges. Lembro-me bem do choque de nós todos, vizinhos, perante a notícia desta tragédia. O filho, Zé António, era meu companheiro de brincadeiras desde muito miúdos no tempo em que brincávamos na rua ou nos quintais das traseiras.

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    1. Benguela ivo21 maio, 2022

      Em 1976 tinha 9 anos fui morar para o chitado com os meus pais, cheguei a brincar com os destroços desse avião. Sem imaginar que naquele lugar tinham perdido a vida muita gente.

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  2. O nome completo do Tenente-Coronel de Artilharia era TCor. Art. João Horta de Galvão Ferreira Lima (o nome foi truncado na peça).
    Trata-se do meu Avô Paterno.

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  3. Humberto Fernandes10 novembro, 2020

    Como foi possível permitir-se num mesmo voo um tão vasto conjunto de oficiais?!
    Para além, do que foi apurado em inquérito, acima mencionado.
    Uma tristeza e perda imensas.

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  4. Boa tarde, o nome completo do meu Tio Avô Tenente Coronel de Infantaria referenciado é José Eugénio Borges (conforme B.I.), no entanto também usava José Eugénio dos Santos Carvalho.

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  5. Boa tarde. Sou filho (Artur Raposo Moniz Serrano) do então Secretário do Governador da Província da Huíla (Frederico de Vilhena Moniz Serrano, não Luís como vem na notícia). Tinha 10 anos na altura e aguardava em Sines junto de familiares a vinda de meus pais à chamada metrópole para gozo da também denominada "graciosa" de meu Pai. Devido a este acidente só regressei a Angola, onde nasci (1951), em 1973, de onde voltei a sair em 1975.Pese embora este malogrado acidente em que perdi o meu Pai, tenho ainda hoje Angola no coração.

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  6. Octávio Sequeira11 abril, 2022

    Prestei serviço militar em vila Roçadas de 1972/74 e nas deslocações ao Chitado, era habitual ir ver o dakota abandonado,rodeado de matagal por todos os lados. Ainda privei com o condutor militar angolano que transportou os corpos na caixa de carga de um velho camião Mercedes,que na época ainda prestavam serviço na Ccac 306 em Roçadas.

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  7. M. Arminda Santos09 novembro, 2023

    Fui enfermeira paraquedista e estou ligada a ese acidente, por ter vivido factos resultantes do mesmo. Nesse fatídico dia, esteve um grupo de paraquedistas comandados pelo seu comandante Major Alcino Ribeiro, prepado para saltar à procura do avião. Um médico e três enfermeiras paraquedistas faziam parte do mesmo. Já em voo, tomou-se conhecimento do achamento do avião, não havendo sobreviventes. No mesmo dia seguiu para o local uma equipe de peritos, que incluiu além de outros tecnicos, o Tenente Pil/Av. Negrão o médico Tenente Coronel João Varela, Director do S Saúde da FA em Angola e uma enfermeira paraquedista. Voámos até Sá da Bandeira num Dakota dos TA de Angola. De Sá da Bandeira ao Chitado, en Geeps e Land Rover, por picada durante a noite cerca de quinhentos quilómetros por picada. Chegados ao local foi feito nesse avião o simulacro do acidente, pelo comandante do avião que não me recordo o nome. Para mim uma assustadora experiência. Do avião acidentado pouco restava da sua fuselagem. Lembro-me bem de estar de "nariz" enfiado no chão, parte da cauda no ar, centro todo ardido e ver a marca na asa que bateu na árvore. Vi em Sá da Bandeira os corpos queimados e acompanhei depois em Lua da os funerais. Estas tristes vivências entre outras ficaram para sempre gravadas na minha memória. PAZ ÀS SUAS ALMAS.

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