quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

MEMÓRIAS DA FAP

EPISÓDIOS DO DIA A DIA
OTA - RECRUTA
O comandante era um major, que tinha a mania das marchas de 40 km (lembranças da 1ª. Grande Guerra?).
Não sei qual era a dele(s), mas o meu pelotão ficava sempre no fim da coluna sofrendo os efeitos iô-iô, que quebravam o ritmo da marcha e estouravam qualquer um. Além disso ainda tínhamos que carregar as armas dos que iam caindo pelo caminho, e amparar muitos deles pelo resto do caminho.
Uma vez ele resolveu fazer uma marcha noturna. Dessa eu gostei. Tínhamos caminhado
apenas alguns kms quando um trator carregado com feno apareceu no fim da coluna. Subimos no reboque e fomos curtindo o passeio. O tratorista tinha um irmão em Angola e resolveu levar-nos até à aldeia dele onde havia uma festa com água-pé à vontade e onde as cachopas nos trouxeram broas de milho, presunto, salpicão, alheiras etc. Lembro-me de termos mostrado o nosso receio de perdermos a coluna. 
Essa eu resolvo, disse ele. Na volta deles eu ponho-os lá. E assim foi.
OTA - INSTRUÇÃO
Algumas vezes na semana tínhamos educação física. Em 100% das vezes acordavam-nos de madrugada para fazer um cross pelos pinheirais.
Logo da 1ª. vez, meio sonolentos passamos pela padaria da base. Um madeirense nos interpelou: não querem um pão quentinho? Mas que gostoso! Pão saindo do forno com manteiga. De lá, saímos para o chuveiro e coisa rara, com água quente.
Depois, cama outra vez. Daí em diante... venha o cross que eu gosto.
.....*.....
Durante a instrução todos os dias antes de seguirmos para as aulas, as turmas formavam na parada em duas ou três filas para uma revista. 
Cabelo, barba, fardamento, botas, etc.
Como naquela época éramos muitos, um oficial começava a revista pela 1ª. turma da direita e outro pela turma da esquerda. A minha turma ficava mais ou menos no centro. O nosso comandante de turma, um "cabeludo" cara de pau, sempre que um dos oficiais, chegava perto, mandava unir fileiras, e lá íamos nós (sem revista).
Acho que sempre pensaram que alguém já tinha passado a revista.
Aí comecei a aprender...!
.....*.....
De serviço num fim de semana e de namorada nova, eu tinha que ir para Lisboa.
Escalado para mecânico do dia (setor de transportes) fui à parada. No final dirigi-me ao oficial de dia e expus o meu problema (da namorada) e de que o pessoal (madeirenses e açorianos) resolveriam qualquer problema. Eu ia-me ausentar para Lisboa e só queria que ele não aparecesse por lá.
Se ocorresse algo de grave, eu nunca tinha tido aquela conversa com ele e estava ciente que cadeia era uma das opções. 
Ele concordou... e correu tudo bem.
OTA - ASSISTÊNCIA MÉDICA
Um dia de muito frio, ao sair da cama, fui de cara no chão. Minhas pernas estavam cheias de calombos que mais pareciam bolas de ténis.
Levaram-me  para a enfermaria. O médico ficou muito impressionado com o meu ataque de reumatismo(?) e receitou-me algo à base de penicilina, acho eu.
Quando fui á enfermaria para apanhar a injeção, o sargento ajudante olhou para a receita, olhou, e disse-me: vamos lá falar com o médico. 
Dr. disse ele, eu não posso aplicar a injeção. "Isso é muito caro para um soldado!" 
O médico argumentou que eu precisava, mas não adiantou. 
Deram-me outra coisa. Só resolvi o problema em Lisboa onde um tio que era médico me aplicou a tal injeção.
Isso me lembrou uma estória que meu pai me contava, e que se passou no quartel onde servia. Um cabo levou a esposa à enfermaria. 
O que ela tem perguntou o sargento? 
É essa ferida nos lábios dela que não sara. 
O sargento foi logo corrigindo-o "lábios não". Lábios só quem tem são as esposas dos oficiais. "As esposas de soldados e cabos têm beiços."
CONTROLADORES DE VOO (1963/1966)
Numa aula, se não estou em erro numa cabine de radar que ficava nas pistas da OTA, foi
recebido um pedido de ajuda (orientação de uma aeronave) que pretendia chegar não sei aonde. O comandante, um capitão (chico), resolveu mostrar como se fazia.
Deixem comigo! Pegou no manual de instrução e ... "começou a ler o manual". 
Terminou quando disse: Você está chegando à cabeceira da pista. Pode aterrar. 
Segundos depois o piloto diz: quem é o FDP que está aí? Estou aterrando na portagem da autoestrada de Lisboa...
.....*.....
Mais uma. Um dos controladores tinha um automóvel igual ao do comandante da OTA (um Vauxall preto). Na volta de Alenquer, todo o mundo já pra lá de Bagdá, ao chegarem ao portão da base, foram surpreendidos pela guarda apresentando armas.
Gostaram tanto que resolveram fazer uma ronda pela base, “quépi” sobre os olhos, passaram por vários postos, onde na maior cara de pau, chegavam a parar para perguntar se estava tudo bem. Até que... um dos sentinelas,  que costumava lavar o carro do comandante reparou na placa. Prego no fundo. O soldado atirou neles ou pró ar, e eles saíram pelas pistas e enfiaram-se por um pinheiral adentro onde abandonaram o carro. 
Eles pegaram o carro depois, mas no dia seguinte se falava de terroristas...
.....*.....
O meu irmão que era controlador de voo trabalhava em escala. Entrava de serviço de 15 em 15 dias. Isso não o liberava da obrigação de permanecer na base.
Ora pois! Saía de serviço e mandava-se para Lisboa. Quando o Capitão perguntava por ele: ainda há pouco o vi... diziam! Um telefonema e ele pegava um taxi. Pouco depois estava na base. 
Capitão o Sr. estava à minha procura? E lá estava ele de volta no mesmo taxi que o tinha trazido.
EM ANGOLA:
Contava-se a história de um controlador que detectou no radar um avião sobrevoando o nosso espaço aéreo e que recusava a identificar-se.
Nosso amigo começou a simular o lançamento de uma esquadrilha de F-84 instruindo-os para abater o avião não identificado. Bem o avião, pelo sim pelo não, resolveu descer...
Na pista tinha 3 PA de FBP na mão esperando por eles. Aviões não havia nenhum. Era só uma pista de apoio. Não sei como terminou.

"Esta história do controlador em Angola que obrigou um avião Belga a aterrar em Cabinda é verdadeira.
O controlador, que era 2º.sargento, quiz que o avião fizesse uma passagem baixa sobre o AM 95 - Cabinda para ser identificado. Como não o fez o controlador simulou contactos com os nosso aviões F84, dando "instruções ao piloto para interceptar o avião Belga, que era um avião de passageiros e de o conduzir e fazer aterrar em Cabinda. Simulou um diálogo com o suposto F84, fazendo aos microfones um ruido parecido dos jactos e assim houve uma aterragem forçada em Cabinda. Isto, creio que foi em 1963 e tenho pena de não me lembrar do sargento que protagonizou este acontecimento. Foi uma bronca das grandes como se deve calcular. O avião belga que foi forçado a aterrar, não tinha capacidade de descolar com os passageiros que levava a bordo. Assim ,estes, foram transportados pelos nossos Nord Atlas para Luanda e ali esperaram pelo avião forçado a aterrar em Cabinda. Isto foi alvo um processo disciplinar ao sargento controlador e quando se temia que fosse punido, acabou por ser louvado. Convivi de perto com este companheiro e, para alem de ser um óptimo camarada, era um espécie de dono do bar do aeroporto de Cabinda, onde corriam cervejolas a rodos. São histórias verdadeiras, que remetem para outras que a breve trecho anunciarei..
Adelino Assunção Santos"

Textos de:
Manuel Nhungue In Esp. FA do FB

1 comentário:

  1. Valente Controlador,eu também lhe daria um Louvor. Desta "matéria " se fazia a Nossa FAP.

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